domingo, 25 de março de 2012


ENTREVISTA DE AUGUSTO ÍNSUA PEREIRA AO DIÁRIO DE AVEIRO
No passado dia 22 de Março o jornal "Diário de Aveiro" publicou uma entrevista que o Augusto Ínsua Pereira, Presidente da Associação Regional de Badminton de Aveiro e Chefe da Secção de Badminton da Associação Académica de Espinho, deu ao Prof. Fernando Gouveia.
Dado que o texto ali dado ao público não contém a totalidade da entrevista concedida, o nosso blog publica aqui a cópia original e integral.
O título e a introdução são da responsabilidade do "Diário de Aveiro".


“A modalidade na nossa área vive da boa vontade de todos…”
O advogado e antigo atleta natural do Porto, aos 47 anos, vai gerir os destinos da modalidade no distrito, até 2013.
Augusto Pereira iniciou a prática da modalidade aos 13 anos no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, filiando-se pela primeira vez na Federação Portuguesa de Badminton na época desportiva de 1978 / 79, em representação do Estrela e Vigorosa Sport. O CDUP, Centro Desportivo de Espinho e a Associação Académica de Espinho, foram os outros clubes que representou enquanto atleta.
Em 2011 Augusto Pereira tomou posse como presidente da Associação Regional de Badminton de Aveiro, para um mandato que termina no próximo ano.

- Qual a sua opinião, para a distribuição de clubes por três Zonas Continentais (Norte, Centro e Sul) e duas Insulares (Açores e Madeira) em virtude de apenas existirem 50 clubes filiados?
Perante o estado de subdesenvolvimento da modalidade, a situação económica do País, as grandes dificuldades económicas dos clubes, associações regionais e Federação, parece-me que fará todo o sentido criar uma divisão geográfica que permita a disputa de maior número de competições regionais, com um melhor aproveitamento dos parcos recursos humanos e financeiros disponíveis. Mas, para tal, será necessário que a inovação surja por iniciativa dos interessados e nunca por imposição administrativa, ou seja, deverão ser os interessados a projectar e a colocar em prática um novo modelo organizativo.
- A FPB, com sede em Caldas da Rainha, dispõe de infra-estruturas que a colocam como sendo a mais bem apetrechada das federações nacionais, mas geograficamente está longe de tudo. Qual a sua opinião se fossem criadas duas Delegações, uma no Porto e outra em Lisboa?
Não sei se a FPB é a mais bem apetrechada das federações nacionais em termos de infra-estruturas, porque penso que a existência de um Centro de Alto Rendimento nas Caldas da Rainha não é uma infra-estrutura muito importante para o desenvolvimento da modalidade, além de que a parte residencial do centro de estágio instalada na sede da FPB é pequena e tem condições abaixo do exigível. Além disso, não entendo como não se aproveitou a construção do CAR para transferir o Centro de Estágio para as suas luxuosas instalações. Tenho tido alguns contactos directos com a realidade espanhola e aí, as coisas são bem diferentes. Existem uns 6 ou 7 Centros de Treino espalhados pelo país que, sem terem luxos, são extremamente bem dotados e apetrechados a todos os níveis. Em Dezembro visitei o Centro de Treino das Astúrias, em Oviedo, o qual se encontra instalado dentro da cidade universitária, num complexo desportivo muito simples mas com tudo o que é necessário para o efeito, inclusive a utilização de uma residência estudantil, onde os atletas permanecem, querendo, em regime de internamento ou semi-internamento.
Claro que o CAR das Caldas da Rainha, único no país, pouco vai contribuir para o desenvolvimento da modalidade, especialmente em termos de aumento do número de atletas, mas também quanto ao desenvolvimento técnico dos nossos atletas, pois muito poucos ou quase nenhuns têm ou poderão vir a ter condições para permanecerem nas Caldas da Rainha ou de para ali se deslocaram para treinar.
Pelo que o modelo a seguir devia ser o da criação de Centros de Treino em cidades ou zonas Universitárias, como o Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Algarve. Quantos? De preferência três. Além de que a situação da Madeira e dos Açores precisa de ser muito bem discutida e pensada.
- O intercâmbio do badminton Escolar e o Federado não está a beneficiar a modalidade. O que aconselha?
Como sabe tenho tido alguns contactos com a realidade do badminton do Desporto Escolar. E uma coisa tenho que dizer: os principais culpados pelo facto de não ingressarem mais atletas na vertente federada da modalidade é da responsabilidade dos agentes desportivos ligados à mesma, a saber, clubes e associações regionais. Se uma relação não funciona, a culpa de tal facto nunca é de uma só parte e nós, ligados ao movimento associativo, temos que fazer muito mais para que possamos aproveitar o trabalho que se faz nas escolas. Posso dizer, que devido ao contacto que se estabeleceu em Espinho e em Esmoriz com duas escolas, entraram na Académica de Espinho nos últimos dois anos uns 30 novos atletas, - o que é muito bom -, sendo certo que o Engº Luís Pinto continua a desenvolver relações e a promover actividades com essas e com outras escolas, o que vai permitir trazer para a modalidade cada vez mais jovens. Assim, o que eu aconselho é que os dirigentes e os treinadores de badminton consigam ir às escolas ver o que lá se passa e consigam criar relações de confiança com os professores responsáveis pelo badminton nas escolas, pois estes nunca quererão impedir que os seus alunos se desenvolvam enquanto atletas e, portanto, querem sempre que eles vão para clubes onde possam desenvolver as suas capacidades desportivas e onde se possam integrar desportiva e socialmente.
- A FPB para possibilitar a ocupação do Centro de Alto Rendimento, veio prejudicar os clubes, obrigando-os a deslocarem-se a Caldas da Rainha, para disputarem ao longo da presente época desportiva 30 competições. Qual o seu comentário?
Tal situação, na minha opinião, é aberrante e nem a excelente qualidade das instalações do CAR pode motivar os atletas e os clubes a terem que ali se deslocarem tantas vezes. Com a falta de capacidade económica dos clubes, as despesas com as deslocações e com a participação nas competições acaba por ficar, na maioria das vezes, a cargo dos atletas (ou dos seus pais). Ou seja, estamos a tirar clubes e atletas das competições, apenas participando um restrito número, que tem possibilidades económicas. Isto equivale a dizer que estamos a colocar atletas fora da modalidade.
- Quais os objectivos da ARBA até ao final da presente época desportiva?
Os novos Corpos Gerentes da ARBA tomaram posse em Julho passado, tendo herdado uma conta bancária com 36 euros! Não sei com que intenções, a anterior Direcção decidiu esvaziar o “cofre” e no final do mandato distribuiu em subsídios todo o dinheiro que tinha acumulado numa conta bancária. A falta de dinheiro, desde logo, limitou a nossa capacidade de acção. Mas como a equipa a que presido é composta por pessoas que não pensam em desculpas, elaboramos um extenso Plano de Actividades, que está a ser cumprido e que é composto por um grande número de competições regionais e nacionais, individuais e de equipas, organizadas quer pela ARBA quer por clubes associados, em colaboração com aquela. Já se disputaram e vão-se disputar até ao final da época competições para escalões de iniciação (os chamados Torneios de Divulgação), em que participam, além de atletas filiados em clubes, alunos de várias escolas, bem como provas para atletas federados, seniores e não seniores. Além disso, já tivemos acções de formação destinadas a técnicos e monitores dos nossos clubes, situação que se vai, também, repetir. De referir, também, que já se verificou a deslocação de treinadores qualificados aos clubes com mais dificuldades quanto à competência dos seus técnicos, bem como a realização de estágios de desenvolvimento nas férias escolares. Posso também indicar que, num primeiro passo de aproximação à Associação de Badminton do Norte, algumas das nossas actividades (competições e estágios) têm tido a participação de atletas de clubes filiados na mesma, por forma a aumentar a qualidade das mesmas.
Portanto, até ao final da presente época o principal objectivo da ARBA é dar cumprimento ao extenso Plano de Actividades que foi elaborado, criando nos clubes a certeza de que, agora, têm à sua disposição uma entidade promotora da modalidade e próxima dos mesmos.
- Qual a situação da comunidade escolar relativamente aos Torneios de Divulgação?
Os Torneios de Divulgação são um excelente instrumento para canalizar para o desporto federado um bom número de jovens que tiveram um primeiro contacto com a modalidade através dos clubes e das escolas. Apesar do grande aumento de participantes vindos das escolas nessas provas (a que eu gostava de chamar Acções de Divulgação), estou pouco satisfeito com a adesão das escolas a este modelo de torneio. As escolas que têm participado são aquelas cujos professores responsáveis pela modalidade são pessoas que já se encontram ligados à modalidade, havendo uma ou outra excepção. Isto porque, em geral, os professores, que já organizam as provas do Desporto Escolar, que se realizam ao Sábado de manhã, não têm disponibilidade para acompanhar os alunos a competições que se disputam durante a manhã e a tarde de Sábado.
- Perante a grave instabilidade económica e social, como será o futuro da modalidade em Portugal?
Apesar de querer e de gostar de ser optimista, penso que os responsáveis pela modalidade – e falo de dirigentes, atletas, treinadores – não percebem que muitos de nós trabalhamos empenhadamente para desenvolver uma modalidade, mas que estamos nas mãos de uma cúpula dirigente que conseguiu ao longo dos quase 20 anos que leva à frente da Federação fazer diminuir drasticamente o número de atletas e de clubes. Este facto é indesmentível. Os números não enganam. Achar os responsáveis é muito fácil. Agora há que perguntar: vamos continuar a ser dirigidos por quem tem mostrado tanta incompetência e incapacidade? Por quem, inclusivamente, tem prolongado ilegalmente a sua permanência nos cargos que ocupa? Sem a introdução de pessoas na Federação portadoras de maior capacidade intelectual e profissional, infelizmente a modalidade não se vai desenvolver. É necessária a criação de gabinetes federativos nas áreas do marketing e das relações económicas e é preciso fazer muito trabalho nessas e em outras áreas específicas, onde é necessário colocar pessoas qualificadas e disponíveis. Bem como é preciso aproveitar algumas pessoas competentes e experientes que actualmente estão na modalidade. E não vejo a actual cúpula dirigente a apresentar projectos nesse ou em qualquer outro sentido.
- Comparativamente com países europeus de grande dimensão competitiva, Portugal tem ainda um número muito reduzido de atletas federados. Qual será a solução, para que haja uma substancial aderência de novos praticantes?
O badminton surgiu na minha vida logo após o 25 de Abril de 1974 e, assim, tive a oportunidade de assistir à enorme explosão que a modalidade sofreu nos anos seguintes. Nesse tempo verificou-se um enorme desenvolvimento do movimento associativo, da prática desportiva em geral e, sobretudo, do desporto escolar. Tive oportunidade de presenciar torneios para não federados com centenas de participantes e tive conhecimento da realização de torneios em Lisboa – os Torneios do Liceu Pedro Nunes -, para atletas federados, com cerca de 1000 participantes. Tudo isto aconteceu porque as escolas e os professores de Educação Física aderiram ao movimento associativo e levaram os alunos a praticar desporto. Eu comecei a jogar badminton no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, onde todos aqueles que alguns anos mais tarde constituíram a equipa campeã nacional da 1ª Divisão pelo Estrela e Vigorosa Sport, começaram a praticar a modalidade.
É isto que hoje tem que acontecer. Primeiro uma “revolução” na modalidade, para que, depois, seja possível que os alunos que começam a jogar badminton nas escolas prossigam na modalidade, quer nas próprias escolas quer nos clubes.
- Como divulgar melhor esta modalidade olímpica?
Não é fácil fazer a divulgação do badminton. A lógica dos “media” é a da venda de jornais. Um amigo meu, editor de um dos principais jornais desportivos nacionais, dizia-me, há tempos, que se sugerisse a publicação de uma notícia sobre badminton com ¼ de página, seria despedido, porque o seu chefe estava preocupado, simplesmente, com o nº de jornais que iriam ser vendidos por aquela notícia.
O certo é que, recentemente, um jornal de grande tiragem publicou uma entrevista de uma página inteira com o melhor atleta português da actualidade, a respeito da qualificação olímpica que o mesmo está a fazer.
O segredo está aqui. No aproveitamento das qualificações olímpicas e das participações dos jogadores de badminton nos Jogos Olímpicos. Se tivermos quem saiba fazer o aproveitamento desses fenómenos através de uma divulgação profissional e intensiva, então podemos divulgar melhor a modalidade.
- Qual a necessidade da formação e informação a treinadores, no âmbito da ARBA?
No desporto a formação de técnicos é essencial. Na área de intervenção da ARBA há carência de treinadores activos. Temos vários clubes em que os treinadores são monitores sem formação e com muito pouco contacto com a modalidade ao nível do treino, pelo menos. Face à reduzida formação de treinadores promovida pela Federação, temos levado a efeito algumas acções de formação para os membros dos clubes nossos filiados. Neste momento está a decorrer uma Acção de Formação, destinada a professores de Educação Física, que vai habilitar várias pessoas com a Carteira Profissional de Treinador de Badminton, depois de eu, pessoalmente, ter feito os contactos necessários para que um Centro de Formação Escolar realizasse a acção. Felizmente, hoje temos dois membros no Conselho Técnico da Associação que são profissionais da Educação Física e que conseguiram que a acção se realizasse. Mas, a este nível, há muito mais para fazer, porque temos poucos treinadores e, sobretudo, poucos Professores de Educação Física com formação de badminton e esta falta de formação leva a que aconteçam grandes aberrações no contacto dos alunos com a modalidade. Valha-nos o facto de termos bons treinadores, como é o caso do Jorge Pitarma, que trabalhou nas selecções nacionais durante 7 anos e que agora desenvolve um excelente trabalho quer na ARBA quer no Clube de Albergaria e na Académica de Espinho.
- Antigamente a FPB atribuía verbas às Associações Regionais conforme o número de clubes e atletas. E agora?
Desde que tomei posse, em Julho, não tenho conhecimento de qualquer subsídio desse género. A Federação, aliás, nunca tentou encetar nenhum contacto institucional com a ARBA acerca dos projectos ou da actividade da ARBA. Isso é, no mínimo, estranho, mas só para quem desconhece a realidade do dirigismo do badminton português, mas significa, simplesmente, que a Federação não tem nenhum projecto para a modalidade e não quer saber dos projectos daqueles que estão a trabalhar para o badminton.
- Em 1996 havia 12 clubes filiados na ARBA, presentemente são apenas 5, a que se deve esta situação?
A modalidade na nossa área vive exclusivamente da boa vontade de todos os dirigentes, treinadores e monitores. Perante a falta de projectos credíveis, perante a falta de qualidade das decisões dos que tutelam a modalidade, dada a existência de grandes ofertas alternativas em termos desportivos, temos visto muita gente a afastar-se. Os modelos competitivos têm mudado a um ritmo quase anual, sendo que todos eles acarretam grandes exigências económicas aos clubes e atletas. Assim, não há muita gente que aguente …
 - Qual o grande sonho da ARBA?
A criação de um Centro de Treino, a funcionar em instalações condignas, com técnicos profissionais, a prestar serviços aos clubes e à escolas, quer ao nível básico da formação de jogadores e técnicos, quer ao nível da competição a níveis qualitativos mais elevados. 

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